A transposição urbana como elemento constituinte do espaço democrático
A estratégia projetual adotada possui a premissa de incitar um eixo de conexão entre duas vias.
Para tal, se faz necessária a desapropriação de outros estabelecimentos comerciais presentes na quadra. Desse modo, o eixo sugerido, ao longo de 115 metros de extensão, demonstra potencial para uma transposição que evidencie o caráter público do uso a ser instalado no local.
Contudo, em vista da atenção necessária à memória, a passagem, a princípio livre, é impedida em prol da aquisição de uma simbologia. A inacessibilidade do nível térreo se apresenta como uma provocação ao espaço democrático, bem como uma recordação das vidas envolvidas na luta em defesa dos valores da democracia – expressas mediante geometrias imersas no espelho d’água.
Uma passarela elevada emerge como um local de expressão política e de sociabilidade democrática inserido no projeto. A dinâmica do percurso realizado pelo usuário condiz com a flexibilidade apresentada pelos espaços sociais e de expografia. Desse modo, mediante as distintas possibilidades oferecidas ao usuário, almeja-se que seu usufruto espacial seja vislumbrado como um ato político.
O programa de necessidades distribui-se em três blocos, os quais possuem acessibilidade direta e conectividade vertical à área expositiva permanente, localizada no subsolo. Diante do baixo gabarito resultante das edificações, a monumentalidade passa a ser representada não pela imponência do edificado, mas pela configuração unitária do conjunto arquitetônico.
O sistema construtivo utilizado foi desenvolvido com a premissa de racionalidade e adequação às distintas dimensões dos vãos, características condizentes com o uso do concreto armado e protendido. Para tal, a malha de pilares elaborada a partir das proporções ideais de balanço sustentam lajes em caixão-perdido, solucionando a dimensão dos vãos e contribuindo com o aspecto de legibilidade formal do edificado. A vedação em policarbonato auxilia a estabelecer uma relação entre a cidade com o museu por meio da permeabilidade visual. Por fim, o revestimento em pedra das áreas externas visa conferir um caráter solene e notório ao conjunto, de modo a evidenciar a importância do local como um espaço público por excelência.